quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Dramaturgia

Nada é por acaso, mas é bom que seja espontâneo. Intérpretes no espaço, uma cadeira quieta e solitária, sugerem imagens, trazem movimento, ideias. É só olhar em volta e tudo se faz alimento para a criação, tudo é texto: corpos, espaços vazios, roupas, objetos, intensidades, luz, palavras. Estão aí, vivos, latentes! A escolha por uma dramaturgia livre é sempre uma aventura. Mas se é para fazermos de “1999=10” um trabalho poroso, que envolve troca entre os criadores, que favorece as potencialidades individuais, a construção do texto nasce assim, de instantes capturados, tempos impensados, e, sobretudo, de um lugar de desejo, de inquietação.

Em “1999=10” não se conta uma história, não existe final. Não há hierarquias, nem um texto soberano: ele são muitos. Nesse espetáculo, o ruído é tratado como música, o deslocamento dos corpos, animados ou inanimados, são movimento, o estudo da luz, as indumentárias cênicas, todos dançam em freqüências dissonantes, mas tecem juntos o mesmo retalho.

E porque não beber em textos dos contemporâneos Ionesco, Samuel Beckett, buscar referências na obra de autores brasileiros, consagrados e anônimos, ligar a televisão - de vez em quando - , consultar a enciclopédia, navegar na internet, ler as notícias do dia no jornal, roubar a fala de alguém. Se estão aí, por que não?

A busca acena para tantas direções e é inquieta. Não há regras no percurso. Ou talvez uma apenas: de que para criar e agregar sempre novos textos é importante embarcarmos plenamente satisfeitos de terno, mas com a atitude de quem suspeita de possíveis asfixias, durante a viagem. Assim, vestidos com alinho e elegância, partimos para uma batalha e ocupamos aos poucos, dentro da armadura de pano, nossos espaços de liberdade. “1999=10” pode ser então um desabafo deste mundo repleto da espécie humana, com o efeito estufa, com calamidades climáticas, tragédias, com a produção de lixo exorbitante, com o excesso de embalagens. Ou não! Está tudo aí, disponível. Agora deixamos para o público inventar um sentido, descobrir seus espaços de liberdade.

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